A profissão é considerada como de caráter liberal, assegurado por lei. São eminentemente práticas que exige respostas rápidas. O profissional deve ser livre de preconceitos, e entender o outro, os contextos em que o indivíduo recorreu ao auxílio, independentemente da situação em que se encontra.
O profissional de Serviço Social está na instituição para garantir os direitos do cidadão, desenvolvendo a sua prática dentro de uma série de limitações e dificuldades procurando compreender as correlações de forças existentes no contexto institucional, e a partir daí traçar estratégias mediadoras de intervenção norteadas no projeto ético-político profissional.
Este trabalho tem por objetivo promover estudo sobre o profissional do Serviço Social, o Assistente Social, e a sua atuação quando inserido no mercado de trabalho, conhecendo a importância dos instrumentos e técnicas no âmbito da intervenção do Serviço Social na atualidade.
Nossa entrevista foi realizada com Sandra, Assistente Social do Presídio Estadual de Frederico Westphalen/RS.
Entrevistada: Assistente Social Sandra Coutinho Vasconcelos.
Nome da Instituição: Presídio Estadual de Frederico Westphalen.
Endereço: Linha Irai, Bairro Barrilense, Caixa Postal 30, Frederico Westphalen/RS.
Ano em que se formou e Instituição de Ensino onde realizou o curso: Ano da formatura 2000, Instituição URI (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões – Campus Frederico Westphalen).
Quais as maiores dificuldades enfrentadas na época em que fazia o curso? O Desconhecimento a cerca do curso e do profissional, visto que era um curso novo na região; Falta de Profissionais (Assistentes Sociais) nos campos de estágio.
Qual era o seu maior medo enquanto acadêmica, no que se referia à prática profissional? Hoje este ainda é seu maior medo ou existem outros?
Além do medo com relação à inserção no mercado de trabalho, existia o medo de não saber se o que estávamos fazendo era o que realmente deveria ser feito, pois a maioria de nós somente contava com a supervisão acadêmica. Não sei se pode ser denominada como medo ou como insegurança. Claro que ainda surgem dúvidas no decorrer do tempo, mas hoje isso foi superado.
Por que escolheu Serviço Social?
Na época em que iniciei o curso, era militante da Pastoral da Juventude e estava envolvida em algumas causas e lutas sociais, procurava algo que viesse de encontro com esse meu envolvimento, além de querer um curso que me proporcionasse trabalhar próxima com pessoas.
Há quanto tempo está na Instituição (Assistente Social)?
Há nove anos e nove meses (desde dezembro de 2000).
Qual o objetivo/finalidade deste profissional na Instituição em que atua?
O Serviço Social nos Presídios tem o objetivo de trabalhar o homem e suas relações sociais - individuais, familiares e com a sociedade - seus hábitos, atitudes e ações com o meio externo.
Nossa intervenção objetiva a individualização da pena, possibilitando o tratamento penal que acontece através do desenvolvimento de ações que procurem amenizar as dificuldades vivenciadas no cárcere e fomentar as potencialidades pessoais de cada indivíduo. O foco principal destas ações é a redução da vulnerabilidade ao delito e a futura reintegração do indivíduo na sociedade de maneira mais digna e com uma conduta socialmente aceitável.
Por que escolheu essa área da profissão para trabalhar?
Não sei definir exatamente o que chamou minha atenção, lembro que enquanto acadêmica participei de algumas pesquisas de campo nesta área e que sempre foi uma área que me chamou a atenção, talvez pelo envolvimento familiar, uma vez que, meu pai era agente penitenciário e procurava nos mostrar o lado bom de sua profissão. Aliás, foi através da indicação de uma assistente social que conhecia o mesmo e que trabalhava em presídios, que fui chamada para trabalhar nesta área, inicialmente como contratada, depois realizei concurso.
Que instrumentais ele utiliza para viabilizar os programas e serviços oferecidos aos usuários? Temos alguns instrumentais que são utilizados pelas assistentes sociais da instituição de maneira padronizada, apenas são realizadas algumas alterações conforme a demanda ou o espaço de trabalho de cada uma. Por exemplo: fichas de triagem; entrevista de avaliação; fichas de acompanhamento e/ou atendimento; relatórios. Por outro lado, conforme necessidade busco outros instrumentais, o que exige certa dedicação a pesquisa. O que acontece com freqüência, é a troca de instrumentais entre as assistentes sociais que atuam nesta área, procurando contribuir para o bom andamento e melhoria do nosso trabalho e dos atendimentos.
Quais os conhecimentos que este julga necessário para a realização de seu trabalho?
Não há como definir um ou alguns conhecimentos, mas temos que integrar os conhecimentos específicos a cerca da profissão, o embasamento teórico apreendido durante a vida acadêmica, com os conhecimentos a cerca da instituição e os que vamos adquirindo e aprimorando durante o fazer profissional.
Como vê a relevância dos mesmos (instrumentais) para a prática do Assistente Social no campo de atuação?
São muito importantes, pois norteiam toda a nossa prática, auxiliando-nos a torná-la mais eficaz e organizada. Acredito que não podemos trabalhar sem os mesmos, pois, por exemplo, através dos instrumentais temos como saber desde quando estamos atendendo ou acompanhando determinado indivíduo, quais as demandas apresentadas pelo mesmo, quais os encaminhamentos e intervenções que foram realizados, assim como a evolução (ou retrocesso) de cada situação.
Quais as dificuldades que encontra em seu trabalho?
Falta de autonomia pra tomar algumas decisões e fazer alguns encaminhamentos, falta de incentivo para a formação continuada e de orientação por parte do departamento ao qual pertencemos (Departamento de Tratamento Penal).
É possível a multi/interdisciplinaridade na Instituição onde atua? Como vê a relação do Serviço Social com outras profissões?
Além de possível, é necessária. No entanto, a instituição SUSEPE - Superintendência dos Serviços Penitenciários, ainda deixa muito a desejar neste âmbito, muitas casas prisionais ainda não possuem profissionais ou possuem somente de uma determinada área, como é o caso do Presídio de FW, em que há somente o profissional do Serviço Social. Podemos citar como exemplo de profissionais necessários nesta (e em outras) casa prisional: psicólogo, enfermeiro, médico, dentista, advogado, nutricionista.
Como vê a relação do Serviço Social com outros profissionais?
Devemos trabalhar de maneira integrada, estabelecendo uma relação amistosa e cooperativa. Trabalhamos constantemente com pessoas, e geralmente com dificuldades e problemas destas, e em um ambiente difícil, por vezes hostil, por isso é de suma importância que tenhamos uma boa interação com todos os profissionais envolvidos neste processo, buscando preservar a saúde mental dos mesmos e evitar o desgaste da equipe.
Cite uma experiência vivida na área em que trabalha.
Relato a experiência vivida na época em que trabalhava na Penitenciaria Modulada Estadual de Ijuí, a qual pode se denominada como atividade de tratamento penal e de individualização da pena, onde conseguimos formar uma parceria com uma malharia e levar trabalho para as presas mulheres. Era um trabalho artesanal, realizado com sobras de malharia que recicladas tornavam-se novas peças de vestuário (e que costumávamos dizer que era o lixo transformado em luxo). Foi um trabalho reconhecido no Estado, por levar trabalho e renda para aquelas presas, por trabalhar sua valorização pessoal e despertar nelas o intuito de buscar novas alternativas para a vida extramuros prisionais. Nosso papel foi de mediar todo esse processo, desde a busca da parceria, a seleção e treinamento das presas, o pagamento das mesmas, a orientação quanto ao uso do valor que recebiam, até a divulgação dos resultados. Outra experiência interessante e que colocou-me numa situação difícil e conflitante, foi quando recebemos um resultado de um exame anti-HIV positivo de um apenado e ele, além de não querer submeter-se a tratamento, negava-se em contar para sua companheira e também não nos autorizava a fazê-lo. Ao mesmo tempo em que éramos sabedores de que esse era um direito seu também éramos conhecedores da legislação penal que nos puniria se fossemos negligentes, negando a companheira do apenado o direito de saber que ele era soro-positivo e que ela estava correndo o risco de contaminar-se também. O que fazer? Foi uma decisão difícil. Depois de analisar a situação várias vezes, decidimos comunicar o que estava acontecendo ao juiz da vara de execuções criminais. O juiz determinou que a companheira fosse informada. O preso recusou-se a fazê-lo, repassando a nós essa responsabilidade. A companheira foi tomada por indignação e revolta e passou a negar-se a visitá-lo. Apesar de intervirmos, ela negava-se a aceitar e o relacionamento entre ambos foi rompido. Algum tempo depois, o preso resolveu aceitar o tratamento proposto e passou a submeter-se ao mesmo.
No dia-a-dia temos experiências menos impactantes, mas de grande relevância como: atendimentos individuais a presos e a seus familiares; encaminhamentos de presos para atendimento com defensor público, para atendimento médico e odontológico, para o que o contato e manutenção da relação com a rede externa de apoio é de suma importância.
Este trabalho procurou sistematizar a prática profissional do serviço social demonstrando seu papel específico em uma unidade prisional. Tal esforço impõe-se para reforçar conhecimentos teóricos do serviço social, através de sua prática profissional e, também, a servir de colaboração aos futuros assistentes sociais que possam vir atuar numa unidade prisional.
Durante a entrevista fomos bem recebidos, sendo dispensada uma grande atenção por parte da profissional, respondendo a todas as questões com clareza, segurança e profissionalismo, demonstrando sempre um grande amor pelo caminho que escolheu.
Atualmente a maioria das pessoas ainda possui a visão do Assistente Social que contribui para a manutenção do sistema, como mero executor das políticas impostas pela instituição onde atua. Porém o Assistente Social tem como objeto de trabalho a questão social, a contribuição para a construção de uma ordem social, política e econômica pelo menos diferente da atual. Reconhecendo nos determinantes estruturais e nas dificuldades da realidade social, os limites e as possibilidades do trabalho profissional, rebelando-se contra os problemas das injustiças, que afetam os desamparados socialmente.
Ao fim deste trabalho, olhando para nossa realidade e para o caminho percorrido através do tempo, dos vários acontecimentos históricos e políticos, fatos marcantes em nossa história, concluímos que o Serviço Social, que passou por movimentos de reconstituição, hoje segue doutrinas e sua própria identidade voltada ao bem estar da comunidade, do grupo. Assistentes Sociais precisam ir além do fazer profissional e promover uma educação popular, orientando os usuários a buscar seus direitos e atuarem no controle social, participando dos conselhos de políticas e de direitos. Para isso é necessária uma formação profissional crítica, com base teórica suficiente para compreender o contexto de totalidade da sociedade capitalista em que o profissional atua. É preciso também que haja articulação entre profissionais de base e da academia, para melhorar a qualidade do serviço.
Na verdade, identifica-se que independentemente dos aspectos que limitam ou determinam as condições objetivas do exercício da profissão, nesse contexto de profundas restrições, dificuldades e desafios, as demandas direcionadas ao Serviço Social aumentam progressivamente, tendo em vista que, dada a sua formação, o Assistente Social é o profissional destinado a lidar com as necessidades básicas dos usuários que recorrem à instituição.
Concluímos que os desafios do serviço social estão centrados a partir das questões que envolvem a sociedade atual. Durante este trabalho podemos conhecer um pouco sobre o mercado de trabalho e podemos abrir nossas mentes para fato de sermos profissionais flexíveis, disponíveis às mudanças através de uma base teórica dos pressupostos para uma análise da profissão, que são de fundamental importância para um futuro amadurecimento como profissionais cientes de que não somos mágicos e sim que somos agentes capacitadores capazes de impulsionar as mudanças sociais. Onde devemos ser cautelosos e disponíveis ao novo.
Sempre haverá dificuldades, mas temos que criar e buscar soluções para o bem estar econômico, psicológico e social dos cidadãos. Apesar dos desafios e dificuldades identificados no desenvolvimento do exercício profissional, constata-se que os Assistentes Sociais vêm procurando atender, de forma consciente e ética as demandas apresentadas, mesmo tendo a compreensão de que a sua prática precisa ser repensada, avaliada e mais fundamentada teoricamente, buscando, na medida do possível, desenvolver um trabalho de qualidade com dinamismo, responsabilidade e competência.
Citamos Marilda Vilela Iamamoto quando fala que “iremos nos deparar com inúmeras dificuldades, mas os sonhos não podem deixar de existir, pois são eles os impulsionadores da profissão.
ADRIANA DENISE ELSENBACH
CHARLENE CASSIA DOS SANTOS
CLAUDIA MARIA BREZINSKI DE CRISTO
SIMONE LAGUNA
REFERÊNCIAS
FERREIRA, CLAUDIA MARIA. Apostila do Serviço Social, Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social IV Unopar, São Paulo 2009.
IAMAMOTO, M. V. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social. – 7ª ed. São Paulo: Cortez, 2004.
SIKORSKI, DANIELA; BOGADO, FRANCIELE TOSCAN. Apostila do Serviço Social, Oficina de formação: instrumentalidade do Serviço Social Unopar, São Paulo 2009.